O Sistema Solar em Português

O Planeta Marte (1940), Agostinho da Silva

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São raras as obras em português sobre o planeta Marte. Uma excepção é este fascículo publicado na década de 40 do século passado, e assinado por Agostinho da Silva. Trata-se de uma obra incluída na colecção dos “Cadernos de Informação Cultural”, que o autor publicou por sua própria iniciativa. Era o primeiro caderno da 2ª série, e custava 1$00... Numa linguagem clara, Agostinho da Silva expunha o estado, à época, do conhecimento sobre o planeta vermelho. O autor começava por uma brevíssima história do pensamento astronómico sobre a organização do Sistema Solar, passando depois às particularidades da trajectória de Marte no céu terrestre. Claro que algumas passagens só nos podem fazer sorrir: ...conhecemos ainda muito mal a existência e distribuïção de mares e de terras... Mas que ninguém fique mal impressionado. Para a época, tratava-se de uma afirmação perfeitamente aceitável. E, como seria de esperar, esta pequena obra é irrepreensível na apresentação do planeta vermelho, não faltando o relato da descoberta dos seus satélites, nem uma arguta discussão da questão dos “canais”, incluindo os efeitos ópticos que podiam levar os observadores como Lowell a tomá-los como reais. A conclusão de Agostinho da Silva? A muitos custará separar-se dos “canais”, mas não haverá remédio senão fazê-lo. A possibilidade de existência de vida em Marte é também alvo da especulação do autor, solidamente apoiado nos conhecimentos então disponíveis sobre a composição da atmosfera marciana e as temperaturas prevalecentes na superfície do planeta. E, de novo: Haverá, com tôdas estas condições, habitantes em Marte? Se entendermos por habitantes seres que se tenham adaptado ao ambiente e que nêle consigam sobreviver, é evidente que há sempre a possibilidade de afirmar que êles existem; se entendermos seres com uma vida semelhante à nossa, então poderemos responder que a quantidade mínima de oxigénio e de vapor de água que se encontra na atmosfera a torna impossível. Mais de setenta anos depois, esta resposta continua a fazer todo o sentido. E esta obra de Agostinho da Silva, para lá do valor histórico que possui, continua a ser uma magnífica obra de divulgação científica.

Agostinho da Silva (1940), O Planeta Marte. Edição de autor